
Dia vinte e quatro de dezembro. Papai Noel preparava-se para descer a ducentésima milésima primeira chaminé da ci- dade de Dreamisover. A neve caía intensamente e o seu sa- co vermelho já estava todo puído de tanto sobe-desce por torres estreitas e mal-projetadas.
Aquela era a última empreitada do ano. Quando colocou a sua primeira coxa para dentro daquele buraco apertado, foi que pôde perceber que estava diante de uma situação ex- tremamente peculiar, pois o projetista daquela chaminé mal tinha deixado espaço para sair a fumaça da lareira.
Vendo que nem o seu tornozelo conseguia passagem, bem que lhe deu vontade de jogar um barro por aquele buraco inútil, mas se conteve e decidiu entrar na casa por cami- nhos alternativos, pois, afinal de contas, aquela era a última casa a ser visitada e não seria aquele fato o motivo para que ele não cumprisse a sua meta anual de visitas aos lares existentes no mundo.
Desceu o telhado e foi com muito cuidado até a janela dos fundos da casa. Era uma hora da manhã e, com toda caute- la, ele conseguiu abrir a janela. Estava muito escuro. Ele pulou para dentro e ficou parado por alguns minutos, até que a sua visão se acostumasse com a escuridão. Passados cinco minutos, já lhe era possível ver o caminho que dava acesso à porta do quarto, por onde passaria para poder chegar até a sala e deixar os presentes.
Tudo estava correndo às mil maravilhas. Papai Noel conse- guiu chegar até a sala e deixou os presentinhos embaixo da árvore de Natal. Para voltar, fez o mesmo percurso. Quando já se preparava para pular a janela de volta para a rua, es- cutou um gemido vindo de dentro do quarto. A pessoa mur- murava “Noel, eu te amo! Vem aqui, meu amor, que eu que- ro te fazer uma surpresinha”.
Curioso com aquilo, Papai Noel aproximou-se da cama para ver quem estava falando aquilo e foi sumariamente envol- vido por um abraço, ao tempo em que a pessoa chegava até seu ouvido e começava a lhe roçar a língua quente, ávida por amor. Papai Noel tentou se desvencilhar, mas as mãos sensuais agarraram-no e arrastaram-no para a cama, reti- rando-lhe aquelas vestes calorentas e fora de moda, dei- xando o bom velhinho somente de ceroula.
A voz feminina continuava gemendo para ele, fazendo mas- sagens nas suas regiões pudicas. Papai Noel, que estava prestes a terminar um dia de trabalho extremamente exa- ustivo, começou a ceder diante daquela carícia feminina tão intensa. Afinal de contas, ninguém é de ferro, nem Papai No- el. “Calma, minha filha. Eu vou te mostrar o que o seu Noel é capaz de fazer”.
Tirando a ceroula, jogou-se por cima do corpo lânguido da mo- ça que, excitada, só queria saber de ficar gritando o nome dele. “Você é demais! Eu te amo! Aaaaahh!!”. Os dois viraram um só e o bom velhinho começou a transar com a moça.
Na sua cabeça, involuntariamente, aparecia a estrofe “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”, de uma cantiga natalina muito conhecida. Na cama, ele mostrava que realmente era um sujeito bom de saco. No clímax, os dois sentiram os prazeres da carne simultaneamente. No momento do orgasmo, a moça foi para a Lapônia e Papai No- el ao delírio. Finalmente, eles chegaram ao fim de um pra- zer jamais experimentado pelo bom velhinho antes.
A moça, com aquela voz sensualíssima, ainda gritava algu- mas palavras de amor, enquanto Papai Noel levantava-se da cama para vestir de novo os seus trajes obsoletos. Antes de sair, o velhinho resolveu ligar a luz para conhecer a fisi- onomia da pessoa que lhe proporcionara o Natal mais feliz de sua vida. Quando acendeu a lâmpada, a mulher olhou pa- ra ele e ficou mais branca do que a sua própria barba.
-Você não é Noel! Você não é Noel! Socoooorroooo!
Ele implorou para que ela se acalmasse, pois ele era o Noel. A moça, imediatamente, foi ao telefone e pediu urgente a presença da polícia na sua casa, pois um velho descarado havia entrado na sua residência, dizendo ser o seu marido, Noel de Almeida, que havia ficado de voltar mais cedo do seu trabalho de turno para passar a noite de Natal com ela.
Papai Noel, com toda lisura de sua consciência, resolveu ficar por ali até que a polícia chegasse. Acabou sendo preso e levado para a cadeia, sem direito a cela especial, pois não tinha diploma de nível superior.
Depois daquele dia, nunca mais Papai Noel foi o mesmo.
- Cacilda, o fim deste conto está meio fraquinho, faltou pi- menta..
|