Vida de Papai Noel

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Vida de Papai Noel



Naquele dia 24 tudo estava dando errado para o Papai Noel. Já de madrugada, refeito de um bom cochilo, ao perceber que Mamãe Noel acabara de se deitar, veio cheio de amor para dar se enganchando por trás dela doido para dar uma- zinha (afinal, teria muito trabalho pela frente e nada como umazinha antes de pegar no batente) e eis que ela res- ponde:

- Ah, Noel! Hoje não, estou tão cansada...até com uma dor- zinha de cabeça, trabalhei até agora embrulhando presen- tes. Coça a minha cabeça um pouquinho para eu dormir, co- ça vai.Te amo, viu? Deu-lhe um beijinho no rosto, virou para o lado e menos de três segundos depois já estava resso- nando.

- Humpft!
Bufou Noel, virando para o outro lado da cama, dando uma bundada que quase jogou Mamãe Noel para fora da cama..

Já de manhã, após esta noite mal dormida, que na lingua- gem dos homens (e Noel apesar de ser velhinho ainda é ho- mem) quer dizer aquela em que a mulher não quis cumprir com suas obrigações matrimoniais (afinal, para quê elas casam? Será que é só para ter um trouxa que lhe pague as contas e lhe coce a cabeça?).

Para piorar a situação, Mamãe Noel estava tão exausta da noite anterior que não levantou para fazer o café e ainda por cima tinha deixado um bilhete preso na porta lhe pe- dindo para colocar o lixo na rua e que chamasse um técnico, pois a máquina de fazer brinquedos havia enguiçado.

- Só prejuízo! Só gasto! Para ela tudo é fácil...é só chamar o técnico, o encanador, o eletricista...e o trouxa aqui é quem paga tudo! Blasfemou Noel, tropeçando no tapete persa da sala de jantar.

- Maldito tapete! Me custou os olhos da cara, me faz tro- peçar e ainda por cima é verde, quem disse para ela que eu gosto de verde? Noel saiu batendo a porta.

Como todo castigo para corno é pouco, o desgraçado do trenó também não quis pegar e teve que dar uns trocados para os ogros desocupados fazê-lo pegar no tranco (que já naquela hora da manhã estavam bebericando cerveja na porta do botequim).

- É, queria ver se eu não fosse tão responsável, se não tra- balhasse tanto e levasse a vida como estes ogros, aí sim ela me daria valor. Mulher gosta mesmo é de homem assim, que chega em casa fedendo a cerveja, que pega na marra mesmo, na base do ou dá ou desce, mulher não gosta de ho- mem certinho não, eles é que estão certos.

E foi neste clima que Papai Noel saiu para trabalhar.

Porém, nada como uma mente ocupada para esquecer dos problemas (ou será que é a atmosfera da rua que faz isto? Pois quando é a Mamãe Noel que está com a macaca não é lavando uma pilha de pratos ou uma trouxa enorme de rou- pa que a faz esquecer, pelo contrário, isso só a deixa mais brava).

Mas o fato é que Papai Noel dedicou-se com amor ao tra- balho, divertiu-se muito entrando e saindo de chaminés, contou piadinhas para os duendes, riu o tempo todo e foi su- per agradável com todos. Teve até a oportunidade de vis- lumbrar a bundinha de fora de uma babá boazuda que dor- mia ao lado de um garotinho.

Ao chegar a casa na manhã seguinte, cansado do trabalho, já nem se lembrava mais das amofinações da véspera. Esta estava limpa e arrumada, Mamãe Noel a havia enfeitado com flores para recebê-lo, como fazia em todo dia de Natal, e da cozinha vinha um cheirinho delicioso dos quitutes que só ela sabia preparar.

Papai Noel deixou o saco vazio sob o sofá, tirou as botas largando-as no tapete, o gorro em cima do aparador e todo feliz entrou na cozinha pegando Mamãe Noel no colo e ro- dopiando com ela deu-lhe beijinhos no pescoço que chei- rava à fritura, detalhe que para ele nem tinha importância, pois ele gostava de rabanada mesmo.Mas foi nesta hora que ele percebeu a tromba da Mamãe Noel:

- Puxa, eu tenho que fazer tudo sozinha? Nem para me aju- dar colocando o lixo lá fora.Será que não tem um dia nesta casa em que eu possa dormir mais um pouquinho? Agora o lixeiro só irá passar na segunda-feira, vai dar mosca.Vai fi- car fedendo.

Papai Noel silenciou-a (como mulher fala quando tá braba, né?) com um caloroso beijo na boca (daqueles do tempo em que não havia ainda nascido a galhada da rena) e num ins- tante toda a fúria de Mamãe Noel se dissipou.

Ele acomodou-a no colo, afagou-lhe os cabelos e sorriu quando ela docilmente lhe pediu desculpas, explicando-lhe que só estava um pouquinho cansada, nesta época de Natal é um corre-corre danado, muita coisa a fazer, que estava na TPM, etc.

Papai Noel nem ouvia o que ela estava falando, aquele olhar tão doce fitando-o e aquela boca carnuda falando tão gen- tilmente e baixinho, só o faziam pensar:

- Ah, hoje ela me dá, hoje ela me dá...ho,ho,ho!



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